sábado, 26 de janeiro de 2013

Língua Latina: O Sistema de Casos

O latim é uma língua com um sistema de Casos morfossintáticos, i.e., a desinência, parte gramatical das palavras, está de acordo com a função sintática que ela exerce na oração (sujeito, objeto, adjunto adnominal, adjunto adverbial, vocativo). Isto quer dizer que a palavra sofre variações na desinência, a depender da função sintática.
São seis os casos latinos:
1) O nominativo: exerce a função de sujeito da oração. Também é um predicado quando acompanha um verbo de cópula em forma pessoal:
Ex.: Petrus bonus est. (Pedro é bom)
2) O vocativo: indica apelo, chamado, assim como o vocativo em português:
Ex.: Tu quoque, Brute, fili mi? (Também tu, Brutos, meu filho?)
3) O genitivo, que corresponde ao adjunto adnominal restritivo;
Ex.: Cicerōnis epistolae. (As cartas de Cícero)
4) O dativo, que no geral se relaciona ao objeto indireto;
Ex.: Epistolam Ciceroni do. (Eu dou a carta para Cícero)
5) O ablativo, que geralmente representa o adjunto adverbial:
Ex.: Mundus lunā illustrator. (O mundo é iluminado pela lua)
6) O acusativo, que em geral corresponde ao objeto direto:
Ex.: Patres amo. (Amo os meus pais)

sábado, 12 de janeiro de 2013

História externa do espanhol antes do século XIV: povos, línguas, cultura (parte 2)

A partir do séc. III d. C., o Império Romano entra em declínio por vários motivos, e entre eles estão as invasões dos bárbaros e a perda do controle sobre muitas regiões, devido à grande expansão territorial do império. A Península Ibérica aos poucos é povoada pelos invasores bárbaros, em especial, Alanos, Vândalos, Suevos e os Visigodos. No entanto, o latim permaneceu como língua oficial, impulsionada pela nova ordem religiosa: o cristianismo. Aponta-se para o fato de que o cristianismo ganhou forças com os novos adeptos bárbaros, eclodindo numa sociedade na Idade Média influenciada e subordinada pelo poder religioso. O resultado das invasões bárbaras é o surgimento de uma cultura hispano-romana-cristã, cujas variedades latinas, mantidas pelos invasores, ganham novos elementos linguísticos.

Mapa 2 – As invasões e migrações bárbaras
As invasões mulçumanas na região Sul – atual Andaluzia e Sul de Portugal – no século VIII d. C. também trouxeram as influências culturais e linguísticas dos mouros. Chegou-se ao surgimento de um dialeto falado pela população composta por árabes, judeus e cristãos, o Moçárabe (ILARI, 2008, p. 34).
Ao norte da região, se localizavam os cristãos que perduravam com as tradições visigodas. Estes povos enfrentavam, por causa do aparecimento e domínio dos mouros ao Sul, uma desestruturalização em todos os âmbitos da sociedade. A reorganização se dá a partir da formação de reinos que consolidavam os seus próprios núcleos políticos e linguísticos. Nasceram assim os Reinos de Castela, Leão, Navarra e Aragão, além do condado da Catalunha. A partir daí, os dialetos de cada reinado foram se configurando em línguas, cada uma com suas particularidades.

                                                                                                           Fonte: http://historiacivilizacao.blogspot.com/
Mapa 3 – Línguas na península ibérica no período medieval
Em pouco tempo, o Reino de Castela alcança um grande poder, conseguindo o feito de anexar os demais reinos. Há também outro fato de suma importância: o processo de reconquista dos reinos do norte contra os mouros no sul, fazendo com que houvesse o repovoamento dos cristãos e a unificação da língua espanhola.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

História externa do espanhol antes do século XIV: povos, línguas, cultura (parte 1)


Antes da formação da Espanha como nação no século XIV, diversos povos habitaram a Península Ibérica, construindo nesse lugar reinados e deixando às gerações subsequentes heranças culturais, sociais e inclusive linguísticas.
Do que se sabe, os primeiros povos a se estabelecerem nessas terras foram os iberos (séc. VI a.C.), que viveram mais precisamente no sul da Catalunha à Costa Mediterrânea. Certamente o nome da península tem sua origem destes. Há discussões de que os Bascos, que viveram e vivem até hoje em uma determinada região ao norte da Espanha, podem ter sua descendência linguística (o Euskera) dos Iberos (PHARIES, 2007, p. 31).

Povos pré-romanos que habitaram a península ibérica
 
Fonte: http://josmaelbardourblogspotcom.blogspot.com/2010_08_29_archive.html
 
Ao noroeste da península – na atual Galícia e em Portugal – habitavam os Celtas, que mais tarde se expandiram para as regiões de Navarra e Aragão. Muitas palavras são provenientes dos celtas: vasallus > vasallo, carrus > carro, Conimbriga > Coimbra (LAPESA, 1981, p. 50).
A incorporação da Península Ibérica ao mundo romano deu-se a partir da Segunda Guerra Púnica, quando, em 218 a.C., desembarcaram em Emporion (Ampúrias) as legiões de Conérlio Cipião, vitorioso em 206 a.C. ao expulsar os cartagineses de Gades (Cádiz). Segundo Lapesa (1981, p. 63), a Segunda Guerra Púnica decidiu os destinos da Hispania, até então dividida entre as influências oriental, helênica, celta e africana. A colonização definitiva da Hispania deu-se sob imperium de Augusto, em 19 a.C, que submeteu os cântabros e astúrios.
À Península Ibérica, chegaram colonos, soldados, comerciantes de todo tipo, funcionários da administração, arrendatários e inclusive gente da baixa camada social, o que evidentemente condicionou o latim falado nesta nova província romana. A Romanização da Península foi lenta, mas tão intensa que fez desaparecer as línguas autóctones, a exceção do basco.
Ilari (2008, p. 29) acredita que os romanos não impuseram o Latim aos povos conquistados, mas estes foram paulatinamente adotando-o, pois era o idioma para as relações comerciais e de comunicação com Roma. Daí há a interpretação de que surgiram variedades do Latim, em que cada região adquiriu dialetos nesta língua, e que mais tarde se tornaram as línguas românicas.
A Romanização da Península Ibérica possui grande relevância histórica, uma vez que anexou a Península Ibérica a um amplo contexto social, cultural, administrativo e linguístico dirigido pela política de expansão dos antigos romanos. A romanização foi um processo pelo qual o Império Romano foi conquistando, submetendo e integrando ao seu sistema político, linguístico e social todos os povos e territórios que foi encontrando ao longo dos ideais expansionistas.
 
Referências citadas
Ilari, Rodolfo. Linguística Românica. 3ª edição. São Paulo: Ática, 2008. Série Fundamentos.
Lapesa, Rafael. Historia de la lengua española. 9ª edición. Madrid: Editorial Gredos, 1981.
Pharies, David. Brief History of the Spanish Language, Second Edition. Chicago: The University of Chicago Press, 2007.




‘Ai flores do verde pino’


Linda cantiga trovadoresca galaico-portuguesa, de autoria de D. Dinis, rei de Portugal entre os anos 1279 e 1325. Interpretada pelo grande ‘cantautor’ galego Amancio Prada.

 
                                 
 

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Português e Galego: algumas diferenças


Ótimo vídeo do programa 'Cuidado com a língua' do canal português RTP, sobre algumas diferenças entre o Galego e o Português:

domingo, 6 de janeiro de 2013

Periodização do Latim

 
Segue-se um breve resumo dos períodos da língua latina (extraído da introdução do livro ‘Fonética Histórica do Latim’, de Ernesto Faria (1970):
- Latim Pré-histórico (século XI – VII?): compreende a fundação da colônia no cume do Germal (colônia que deu origem a Roma) por pastores vindos do monte Palatino até o aparecimento dos primeiros documentos escritos;
- Latim proto-histórico (século VII? – 240 a. C.): compreende os primeiros documentos em Latim: a ‘Fíbula de Preneste’, o ‘Cipo do Fórum’ e o ‘Vaso de Duenos’);
- Latim Arcaico (240-81 a. C.): Surgem os primeiros textos literários, dentre os quais se destacam as produções de Lívio Andronico (240-207 a. C.) e Névio (235-204 a. C.), as comédias de Plauto (254?-180 a. C.), a poesia épica, dramática e lírica com Ênio (239-169 a. C.), a criação da sátira por Lucílio (?-103 a. C.) e a criação da prosa literária por Catão (234-149 a. C.). Também neste período surgem os textos epigráficos, com os epitáfios dos Cipiões, as dedicatórias, as moedas, o Senatus Consultum de Bacchanalibus (168 a. C.), a Setentia Minuciorum (117 a. C.) e a Lex Cornelia (81 a. C.);
- Latim Clássico (81 a. C. – 17 d. C.): A prosa se destaca na Idade de Caesar, com Cícero (106-43 a. C.) e Caesar (101-44 a. C.). Destacam-se também Lucrécio – apogeu da poesia filosófica (98?-55? a. C.), Catulo – introdutor de vários metros gregos em Latim (87-54? a. C.) e Salústio – apogeu da história (86-35 a. C.). Na Idade de Augusto, a poesia chega à ‘perfeição’ com Vergílio (70?-19 a. C.), Horácio (65-8 a. C.) e Ovídio (43 a. C.- 17 d. C.). Ainda neste período, destaca-se a narrativa da história de Roma de Tito Lívio (64? a. C. - 17 d. C.), denominada Ab Urbe condita libri;
- Latim pós-clássico (17 d. C. – século V) divide-se em dois grupos: (i) a Idade da Prata (séculos I e II), em que numerosos poetas e prosadores não são oriundos da Itália, como Fedro (da Trácia), Sêneca, Lucano e Quintiliano (da Espanha), Plínio o jovem (da Cisalpina) e Plínio o velho (de Como); (ii) O pré-romance, nos séculos III a V, com o surgimento da literatura cristã em Latim – destacando-se no latim eclesiástico o escritor Tertuliano – que no século IV chega ao seu apogeu, com Santo Ambrósio (330?-397), São Jerônimo (347?-420) e Santo Agostinho (353-430). No século V, com as invasões dos ‘bárbaros’, o Latim se desenvolve em diversos romances, que irão dar origem às línguas românicas.

 

O Latim: origens

O Latim era uma língua falada no Lácio, hoje região no entorno de Roma. No século XIX, com o advento dos estudos comparativistas – dentre os quais destacamos a obra de Franz Bopp (1816) intitulada ‘Vergleiche Grammatik des Sanskrit, Zend, Griechischen, Lateinischen, Lituanischen, Gothischen und Deutschen’ [Gramática comparativa do sânscrito, persa, grego, latim, lituano, gótico e alemão] – observou-se o parentesco do Latim com outras línguas europeias e asiáticas (línguas do norte da Índia até a Península Ibérica), em termos de pronúncia, gramática e léxico. Estabeleceu-se então o Latim como uma língua pertencente à família indo-européia, que juntamente com algumas línguas da península itálica, como o osco e o umbro, formavam uma subfamília itálica.
O primeiro texto que se tem documentado em Latim é a ‘Fíbula de Preneste’, provavelmente do século VII a. C. Trata-se de uma fivela de ouro encontrada na cidade de Preneste, contendo a seguinte inscrição em prenestino (latim dialetal), em caracteres etruscos:
 
 
Manios med fhefhaked Numasioi
 
Entre os primeiros documentos da língua estão também o ‘Cipo do Forum’ (século VI ou V a. C.?) e o ‘Vaso de Duenos’ (século IV?).