No
português dessa época verificam-se algumas características particulares a esse
estagio de língua. No que diz respeito à relação grafema-fonema, tem-se o uso
de <ch> para representar a africada palatal [tʃ] e o uso de <x>
representando a fricativa palatal [ʃ]. Outro aspecto peculiar é o surgimento
das consoantes africadas [dz] e [ts], as quais se aplicam os grafemas <z>
e <ç>, respectivamente. Para o som da fricativa alveolar sonora [z]
aplica-se o grafema <ss>, ao passo que para a representação da correspondente
surda tem-se o grafema <s>.
No plano fonético-fonológico, as dez vogais tônicas
do latim clássico – ī, ĭ, ē, ě, ā, ă, ŏ, ō, ŭ, ū – já estão reduzidas no
português arcaico a sete – [i], [e], [ɛ], [a], [ɔ], [o], [u] – devido à perda do
traço distintivo de quantidade, dando lugar à distinção com base na oposição de
timbre. No que se referem às consoantes, as geminadas do latim são reduzidas a
apenas uma. As oclusivas surdas simples sonorizam-se em início e meio de
palavra: [k]attum (lat. cl.) > [g]ato; lu[p]um (lat. cl.) > lo[b]o.
No período arcaico havia o uso indiscriminado de
<i> na escrita como vogal ou consoante, bem como <u>. Em vários
textos medievais verifica-se o grafema <u> em lugar de <v>, como
nas palavras ‘uos’ e ‘caualgar’. Essa confusão perdurou até inícios do século
XVI, a partir da distinção entre essas letras e as letras ramistas <j> e
<v>. Os dígrafos <lh> e <nh>, provavelmente de origem
provençal, são utilizados para a representação das consoantes palatais [ʎ] e [ɲ],
respectivamente.Ainda nesse período ocorre o uso do til em vogais tônicas finais como sinal de nasalização, além da marcação com o uso de consoantes nasais, apresentando a variação gráfica ‘coraçõ’, ‘coraçom’ e ‘coraçon’, por exemplo. As terminações latinas -anus, -ane e -one evoluíram, respectivamente, para -ão, -ã/-an e -õ/-om/-on.
Com a síncope de algumas consoantes em meio de
palavra, houve no português arcaico uma grande quantidade de palavras formadas
por uma sequência de hiatos: credere (lat.) > creer (port. ant.); vinu
(lat.) > vĩo; luna (lat.) > lũa.



